A TAÇA E O VINHO
I – A Taça
Insípido cristal translúcido
Em teu ventre repousa,
Inerte, magnífico e lúcido
O vena santificado.
Tua missão é nobre,
Deves vestir o rei,
Deixá-lo inatingível,
Delineá-lo, purifica-lo.
Deves, sobretudo, emanar sua áurea,
Dourada, infinita e deslumbrante.
Protege-lo das atribulações do cotidiano
E guardar seus segredos e mistérios.
És, pois, como a esfinge,
Guardião místico e eterno,
O limite físico do corpo
E a tênue separação da alma.
II – O Vinho
Escarlate néctar de Baco,
Sumo soberbo e fugaz.
Resplandece de teu brilho
Todo o teu ser, que se fez luz.
Teu espírito invade o ar,
Teu corpo ludibria o meu,
Teu objetivo: os sentidos dominar;
Pois vem, não te resisto mais.
Ao teu sabor o amor
Aflora sem a razão
Tens a paixão por poder,
És o mago do coração.
Se em teu bouquet coexistem
A terra, a água, o fogo e o ar,
És a essência da criação,
O Alquimista da ilusão!