luna, luna, luna

"Huye, luna, luna, luna..."

e leva os olhos de meus meninos de mim

que hoje sou o que não se faz mais em listras

que não se veste de jeans

e que não olha nos olhos de mais ninguém

Foge, lua

que hoje sou o que não pede licença

o que não pede desculpas

e o que não deve nada a ninguém

Foge, lua

e leva os olhos de meus meninos de mim

Que hoje peço do uísque que se me fizer mais escocês

e reclamo da taça

e reclamo do tempo

e pago por outra taça

e pago até por outro tempo

E que me estendam tapetes vermelhos

novos tapetes vermelhos

que não ouso pisar onde outras gentes encostaram seus pés

Foge, lua

que hoje espírito nenhum haverá de me enviar viciadas almas

à cata de contos de réis

à cata de álcool

Que deus ordenou que todos os espíritos viessem a mim?

Que a mãe de Jenifer viesse me esperar à porta do hotel,

de um hotel que nunca vi?

de uma cidade de flores

e folhas deixadas ao pó

Que espírito me manda a mãe de Jenifer

me pedir dinheiro para o leite de Jenifer

e me dizer que sabe que eu sei que preciso me dar?

Não preciso mais

Nunca mais

Foge, lua

e leva a mãe da menina dos olhos de mim

que nenhuma porta de hotel me será barreira

que me exalo de todo o perfume de cada flor da avenida

e desprezo cada folha esquecida ao léu

Foge, lua

e leva os olhos de meus meninos de mim

que hoje sou tudo que nunca conheceram

que hoje sou o que repele o mais fraco

o que não dá a mão

Foge, lua

que hoje sou o que não quer apego

o que não sabe afeto

o que quer apenas brilho

e apenas louvor

Hoje sou o que é maior

o que inibe os sonhos daquele que sabe que não sou assim

e que me olha do outro lado da rua

e me segue com os olhos

como guiado por forças do além

E nem minha prepotência

nem meu olhar por sobre tudo e todos

nem meu hálito europeu

nada me arranca aquele espírito de mim

que me pede uma ajuda

Ajuda que não dou

Foge, lua

que hoje sou o que não deve ajudar ninguém

que todos os deuses se esqueçam que eu existo

pois que não cuido mais de viciadas almas

que não sirvo mais de encosto pra alma nenhuma mendigar meus dias

que não suporto outras almas

que não suporto minha alma sequer

Foge, lua

e leva os olhos de meus meninos de mim

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 27/05/2012
Reeditado em 27/05/2012
Código do texto: T3691362