Tudo em quase nada

O tempo doeu por entre o silêncio que ficou em quase tudo

Doeu por entre os sonhos que nem chegaram a despertar

E os meus olhos, por uns tempos, só viram você

onde você não estava

A tua voz macia ficou indelével em minhas noites

da ilusão à acusação,

ao desprezo que se uniu aos meus dias

Alguns poemas ainda caem do teu retrato

lentamente

antes que eu possa escrevê-los

Rabiscos de solidão

Tudo entre nós foi tão velho

A velha imagem no espelho

A velha mão flutuante que não tocou o teu rosto

que passou tão longe da tua alma

gestos gastos

vagos gestos

O velho roteiro roto

Os olhos cansados que te procuravam

para não deixar de ver o meu amor

e a fantasia partindo-se ao meio

A língua lambendo o acaso

experimentando o gosto da lágrima

que vem cavoucar meu passado

vem desmentir minhas verdades

e meus sentimentos de(s)feitos

E diante do meu medo intrínseco e cego

não te peço nada

Apenas esquecimento

no exato momento

em que você é somente

todas estas mulheres no espelho

e eu sou os tantos outros homens que você não conheceu

E perdemos tudo

até a possibilidade da amizade

de se emocionar com os dias que passaram,

loas aos ventos que nunca sopram sozinhos

Perdemos a possiblidade do carinho

Hoje, quando a noite dorme e o silêncio retoma a velha canção,

eu me escondo em palavras,

viro a página do livro e das lembranças

e dia após dia

tento transfomar adeus em poesia