Deixarei Algumas Coisas

Deixarei toda poesia esvair-se de mim

E nas sarjetas enxurradas de palavras

Lavando os dicionários aposentados

Deixados na gaveta do criado mudo

Deixarei as luzes artificiais apagadas

E iluminarei as frestas com meu olhar

Sobrepondo sombras atrás de você

Quando as curvas do tempo se dissolverem

Deixarei os livros antigos em uma mercearia

E os comerciantes aprenderão os modos necessários

Enquanto os transeuntes continuam suas sendas

Em ruas paralelas cobertas de estórias e histórias

Deixarei algumas rosas no seu travesseiro

Enquanto você se banha ao luar de agosto

Os perfumes celestiais, eu roubarei em frascos

E derramarei gotas de orvalho no seu amanhã

Para que se refresque em lembranças vivas

E eu seja a marca inviolável no seu coração