Pondo ordem nessa zona







Raios e trovões, chôro e ranger de dentes.
De repente rebelaram-se os poemas,
por eu torná-los tão vis e pouco decentes...

De um lado me insulta o dandy decadente:
"São muitas palavras...corte algumas e todos ficam contentes.
Como pode, algo tão deprimente, ser assim admirado,
se não traz enlevo nem enobrece, a cabeça de toda a gente?"

De outro lado vem a cyberfaggot,
com sua agiotagem de poesias  que tomei emprestado.
Disse que quebraria minhas pernas,
com o seu salto 20 ou o taco de baseball.
Ameaçou tomar de volta minhas combinações esdrúxulas,
e disse que jamais Mozart rimaria com veado.

Sempre dá pra piorar, e Wagner sacou de sua luva.
Esbofeteou-me a cara, com desdém,
cobrando direitos autorais pelo apocalipse de escola de samba.
"Quero minhas trompas de volta", ele gritava,
"recolham os anjos e os canhões da permuta".
Fiquei sem efeitos especiais para meus poemas do Armagedon,
e agora não dá pra contar nem com Joãozinho 30...

Mortalmente ultrajadas, as leis da física,
cansaram-se de xícaras flutuantes e universos paralelos.
Ameaçaram-me de morte caso eu não colocasse, novamente,
a terra e os planetas em suas órbitas.
Estou censurado e não posso falar
de nenhuma dimensão que não tenha sido testada e aprovada.

Meus amigos calaram-se todos, pois nunca sabiam,
se estava exaltando ou ofendendo suas mães.
Mas para eles, há segurança, pois meu lema
é que quanto maior o amor, maior o espancamento.

Os restos atômicos de Sócrates e Platão,
fizeram o que puderam para virem dar-me um chute no saco.
Mas tiveram de entrar na fila, junto a Fedra e Édipo,
que depois de tanto castigo, em minhas palavras tolas,
puderam até, serem finalmente regenerados.
E bradavam: 'Isso sim é ser castigado...um péssimo autor,
querendo reescrever os clássicos."

E auto-flagelavam-se as metáforas.
Com seu infinito complexo de culpa,
Como é terrível a dor de juntarem-se a outras palavras,
e levarem a fama por meus pensamentos escusos.

Mas nenhuma rebelião ou carnaval fora de hora,
é suficiente para conter minha sanha assassina.
Assaltarei cada biboca onde a palavra se esconde,
seja na zona, no pasto, na arte ou na química.
Porque detesto carnaval, mas sambo assim mesmo,
na cara escrota de uma sociedade medrosa.
Como um legítimo dançarino do Riverdance,
enquanto sapateio, e apenas olham meus pés,
olho pro nada com cara de dandy enjoado,
e penso com meus botões forrados:
"quero ver essas virilhas suadas,
por tanto pudor e recato fingido.
Quem tem problema com as palavra não sou eu...
é a sua moral que em tudo vê pecado".
Continuem...observem meu sapateado...


EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 25/05/2012
Reeditado em 26/05/2012
Código do texto: T3688424
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