Desencantos

Não soubeste

Nem eu te diria

Do grito sufocado

Da agonia amordaçada

No baço dos meus olhos

Não sentiste

Nem eu te mostraria

O penetrar da navalha

Afiada pelas palavras

Atravessando-me a alma

Quisera hoje não ser a mesma

Nem precisar fingir serenidade

Pudesse esgarçar a voz

Sem temer o eco de cada sílaba

Antes estes versos me contivessem

E estancassem a lágrima

Mas o teu gesto sobrevive

Ao espalmar das minhas mãos

Ao cerrar de todos os meus olhares

E pergunto-me repetidas vezes

Haverá um lugar onde meus olhos apaguem

Todas as palavras que não me pertencem?

Amanhã o dia acordará sem sombras

O sol não lembrará desta noite

Deito o meu coração

Ainda reticente e insone

Talvez as águas da dor

Não me afoguem

Nem me acompanhem

Os passos dessa tristeza...

Fernanda Guimarães

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 07/02/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T3688