Seminu

Semi-homens, semideuses, açambarcados,

monopolizando as horas do sol;

entre litígios desse julgamento interminável,

onde o réu e o juiz são o mesmo dente.

Abocanhando as flores pisoteadas,

guloseimas matinais de cupins do mundo;

jogando as planícies esquecidas em uma fornalha,

juntando juncos em um campo febril.

E os pensamentos não podem mais esconder-se,

pois os lunáticos em suas bicicletas amarelas;

gritam em auto falantes mudos suas misericórdias,

descontentes com essas vias cheias de crateras lunares.

Semi-homens, semideuses, olhos semicerrados,

gatos miando para o telhado molhado, florestas no cio;

enciclopédias todas dentro de uma mala antiga,

e o caixeiro viajante anda em um Gurgel sem porta-luvas.

Eu aqui espasmagórico e sorridente, alucinando as televisões.

Eu ali deitado dentro do meu próprio corpo, seminu.

E as coisas do mundo são comuns demais,

prefiro viver em uma caverna embaixo da escada.

E entre os olhares desconfiados guardarei o meu bocejo,

guardarei nas gavetas do tempo minhas poesias;

e beberei toda a água da minha geladeira envelhecida,

matando assim a sede de voar em uma nave espacial.