Nêga Gabriela

Cê quer me dar uma beijo,

Nêga? Dê! olha

Meus lábios apontando

Para o seu queixo!

Cê quer um abraço, Nêga?

Eu te dou, olha como

Tenho os braços longos

E tomados de flor...

Olha meus olhos

Pendurados de vontade,

Olha como mareja só

De saber que essa pele é

Sua! que essa boquinha

É sua! E que mais tarde,

Se assim Deus quiser,

Você vai mostrar a esse pobre,

A poesia que você guarda...

E o mistério que você é!

Esse segredo que brota

Bem gostosinho quando

Me olha de falso, quando

Tenta me esconder o seu

Fingimento, a sua distãncia.

Quê, de tão forte

É nitro e anil...

É solidão, é de medo.

De vida encorpada,

É o mundo, Nêga!

É o mundo, por isso,

Tenha cuidado!

Nega, você é meu pedacinho

De céu, minha lasquinha de

Flor, minha coisinha tênue

Um beijo infantil....

É essa montanha também.

Forte e poderosa que suporta

A minha dor!

Por que não se entrega

E me mostra logo

O seu horizonte...Esse campo

de arroz que seus pés pisam.

A sua fala que vem

Tão de dentro, misturadinha

De cor, de amor, de balinha,

De jeitinhos de menina que

Que se conhece como noite.

Nega, sabia que a noite

O céu vai estar bem aqui ainda?

Sabia que a lua vai riscar

O céu, vai banhar namorados

E fazer a abaular a maré?

Sabia, nega? Sabia que

Se a gente não olhar,

A lua não se sabe bonita?

Nega, que perna é essa

E esse decote anunciando

Minha morte, o meu desatino.

Ás vozes, o meu desanimo,

Esse entorpecimento,

E ainda é maio, Nega..

Ainda é maio...

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 23/05/2012
Reeditado em 23/05/2012
Código do texto: T3683924