Posta-Restante

Era quase-noite, mas, ainda, um belo dia

O lusco-fusco ludibriava o meu e o teu olhar.

Entrecruzamo-nos nesse quase-momento,

Nesse quase-nada, nesse quase-tempo

E nada restou, afora a tua quase-presença,

Um sopro perdido... na minha quase-vida.

Era quase-noite, mas, ainda, um belo dia

A dissidência da luz tornava-nos soturnos

Criaturas quase-noturnas, quase-diurnas

Fomos, nesse quase-estado de quase-nada,

Quase-tudo, enredamo-nos em nós mesmos,

Resultamos insólitos... na nossa quase-vida.

Era quase-noite, mas, ainda, um belo dia

E quão fugazes eram aqueles quase-minutos

Escoando nos vãos de nossa quase-história

Que pouco de nós sobreviveu ou quase-ficou

Ou fez-se quase-correspondência, quase-carta

Posta-restante de nós... Ou de quase-nós.