NÓ NAS LINHAS DA MÃO.
A dor da espera esfacela,
destrona, desmorona.
Faz o ar ficar rouco, faz o afago virar soco,
faz tudo ficar mofado.
A dor da espera desafia o céu e o inferno,
deixa a boca amarga, acinzenta a cor.
A dor da espera não perdoa nem negocia,
deixa o sangue empedrado, coloca cabresto no sonho,
é atroz e não seca nunca.
A dor da espera rasteja, esbraveja,
desfalca a alma, confunde as batidas do coração,
dá nó nas linhas da mão.
A dor da espera alfineta, arrebenta nossos rebites,
escracha com os nossos limites,
encarde nossos recantos mais sagrados.
A dor da espera nunca sossega, nem dá perdão
nos deixa de cara suja, voz manchada e caminhar torto.
A dor da espera é esperta, sabe de nós como ninguém,
engana Deus e o diabo com ginga de mestre,
é areia movediça com apetite de leão.
A dor da espera dispensa agrados, é soberana, é tirana, é sacana,
quando achamos que está morta, abre os olhos e volta com vigor maior,
só pra estilhaçar cada face da nossa fé num gozo eterno
e rindo à toa.
Rindo à toa toda vida.
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