A VIDA DO SOLITÁRIO.

H. Amador.

Noite terrível. Pairava no meu pensamento,

Como um mar em fúria, naquele momento,

Toda a tristeza do meu solitário vagar.

E escutei o sussurrar de minhas ideias.

Que lamentavam não terem epopeias,

Onde pudessem os desenganos mergulhar.

Ser apostolo do amor, é ser romeiro,

É não trocar algo sublime pelo dinheiro

Que a humanidade se afeiçoa sem pudor,

É viver uma vida introvertida,

Com a alma penitente e recolhida,

Cultivando com carinho a flor do amor.

Suporta toda dor que se debruça,

Sobre seu peito dolorido que soluça,

Na agonia cruel desta atroz dor,

E vai vivendo, amargurado seu fadário,

De oração em oração, o solitário,

Sem um misto de revolta ou rancor.

É noite alta. O vento lá fora farfalha,

Como gemido de pavorosa mortalha,

Ecoando sinistramente na amplidão,

E o solitário nem sequer estremece,

Olhando o círio que devagar fenece,

Com um vazio a povoar-lhe o coração.

Nesta hora augusta, a boca já cansada,

Murmura febril o nome da sua amada,

Que neste momento o sono já venceu.

E sobre um leito de setim dourado,

Que outras musas já tinham bordado,

Esconde pudica e serena o seio seu.

E como náufrago desesperado e contrito,

Na ânsia louca de salvar-se, e aflito,

Eleva o olhar agonizante para a amplidão,

O solitário repete o nome da sua querida,

Pedindo a Deus que a coloque em sua vida,

E abençoe lá do infinito esta união.

Depois de finda esta humilde prece,

Saída do âmago de sua alma que padece,

Em rústico leito vai se recolher.

Sem ter pressa, porque sabe que o novo dia,

Será sempre, como os outros, de agonia.

Sem ter dó do seu penar e do seu sofrer.

Santa Luz, 22. 07. 1964.

Poema dedicado a Izabel.

Sertanejoretado
Enviado por Sertanejoretado em 22/05/2012
Código do texto: T3682786
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