abertura...
Eu assumo:
Que vivo
Na bruma,
Sob o céu da infância
Que não sabe ir embora
Que não deixa a cantiga de ninar
Ir embora,
Que minha mãe cantava
Antes do primeiro sono
Antes do cansaço vencer
De meu pai chegar da rua...
Não deixo meu quintal
Cheio de mangueiras
Pés de mamão macho
Descendo leite e pulverizando
Ao chão...
Embaixo de sol
Que era sol o dia todo
E a noite que era noite
A noite toda,
A gente brincava:
Embaixo da bruma da infância
Podia-se brincar,
Podia amar sem cobrar
Podia ser um astronalta
Um bombeiro, um homem
Cego, um porteiro do céu
Tudo era brinquedo
O mundo era feito pra brincar
E mesmo tudo aberto assim
A vida era um segredo
Inviolado.