A vida é dona dela mesma

Ao mesmo

Tempo que me dizia que amava a vida

O dia era desperdiçado

Num palavrão...

E no rosto embaraçado

E trancado....

Não havia ainda

Pincel pra desencanto.

E a janela que não sabia

( ou não se importava...)

Dos seus gostos:

( a janela vive só para o mundo entrar )

Continuava revelando

O perdão...

Que saia das árvores da rua.

E do céu que embrulhava

A cidade de Azul.

O vento que tinha mãos

De pecador, bagunçava

O meu penteado,

Tão duramente preservado

Pra parecer um homem

Germinando.

 

Da Janela também

Se via o sol

Que era belo...

Mesmo que ninguém quisesse.

E havia gente que só

Via sentido nas coisas

Quando elas cheiravam

Á bosta de vaca.

E á esterco de porco.

 

E da meninada,

Que ainda puros,

Não se comoviam com cara feia.

Não havia nada escondido

Do lado de cá do horizonte.

E nossa casa morava na rua

De cima. Perto do colégio.

Onde mocinhas frágeis

De roupinhas curtas,

Abraçadas de esperanças

Já com olhos de serpentes ( sutis )

Requebravam subindo a rua

Da depravação.

Pra elas isso era um segredo

Não para a janela,

Que não sabe fazer julgamentos.

A vida entra sem pedir licença,

Porque é de sua natureza

Ser dona dela mesma.

E dos espaços vazios.

 

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 22/05/2012
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