A vida é dona dela mesma
Ao mesmo
Tempo que me dizia que amava a vida
O dia era desperdiçado
Num palavrão...
E no rosto embaraçado
E trancado....
Não havia ainda
Pincel pra desencanto.
E a janela que não sabia
( ou não se importava...)
Dos seus gostos:
( a janela vive só para o mundo entrar )
Continuava revelando
O perdão...
Que saia das árvores da rua.
E do céu que embrulhava
A cidade de Azul.
O vento que tinha mãos
De pecador, bagunçava
O meu penteado,
Tão duramente preservado
Pra parecer um homem
Germinando.
 
Da Janela também
Se via o sol
Que era belo...
Mesmo que ninguém quisesse.
E havia gente que só
Via sentido nas coisas
Quando elas cheiravam
Á bosta de vaca.
E á esterco de porco.
 
E da meninada,
Que ainda puros,
Não se comoviam com cara feia.
Não havia nada escondido
Do lado de cá do horizonte.
E nossa casa morava na rua
De cima. Perto do colégio.
Onde mocinhas frágeis
De roupinhas curtas,
Abraçadas de esperanças
Já com olhos de serpentes ( sutis )
Requebravam subindo a rua
Da depravação.
Pra elas isso era um segredo
Não para a janela,
Que não sabe fazer julgamentos.
A vida entra sem pedir licença,
Porque é de sua natureza
Ser dona dela mesma.
E dos espaços vazios.