Álibi

Um álibi de vida e de morte: é do que preciso!

Para provar que vivi morto, e assim permaneci até o fortuito suspiro que precede a inexistência.

Julgar que respirei num constante estado de inconstância.

Estender a mão às alegrias decepcionantes que o meu rejúbilo espiritual permitia-se a uma depravada liberdade.

Um álibi para esquecer que não fui muita coisa, encher de falsos sorrisos o fantasma de uma vida claustrofóbica

Ser condescendente demais, humano demais

Porque o meu futuro à ventania pertence.

Não participar da minha imitação de vida, o pobre desgraçado.

Colher a essência, gota a gota – mas por fora, sem influência nem contato

Sorvendo e aspirando o pior e o melhor, sem piedade

Autografar meu retrato com asco

Derramar litros de risada em minha ausência

Denegrindo-me quando não estou por perto

Que não irá se importar com nada além dele próprio

E quando alguém perguntar por mim

Dará um frenético sorriso amarelo e constrangido e delicado

“Eu o conheci” ele dirá.

É de um álibi que preciso.

Lucas Leonel
Enviado por Lucas Leonel em 21/05/2012
Reeditado em 30/12/2012
Código do texto: T3680630
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.