Álibi
Um álibi de vida e de morte: é do que preciso!
Para provar que vivi morto, e assim permaneci até o fortuito suspiro que precede a inexistência.
Julgar que respirei num constante estado de inconstância.
Estender a mão às alegrias decepcionantes que o meu rejúbilo espiritual permitia-se a uma depravada liberdade.
Um álibi para esquecer que não fui muita coisa, encher de falsos sorrisos o fantasma de uma vida claustrofóbica
Ser condescendente demais, humano demais
Porque o meu futuro à ventania pertence.
Não participar da minha imitação de vida, o pobre desgraçado.
Colher a essência, gota a gota – mas por fora, sem influência nem contato
Sorvendo e aspirando o pior e o melhor, sem piedade
Autografar meu retrato com asco
Derramar litros de risada em minha ausência
Denegrindo-me quando não estou por perto
Que não irá se importar com nada além dele próprio
E quando alguém perguntar por mim
Dará um frenético sorriso amarelo e constrangido e delicado
“Eu o conheci” ele dirá.
É de um álibi que preciso.