atrás do guarda-roupa da minha vó mora um homem!
Atrás do guarda-roupa da minha vó
Mora um homem.
Ela acordava cedo, fazia as coisas
Depois levava uma bandeja e se fechava no quarto
A gente não podia dizer nada,
Esperava ela voltar, quase na hora do almoço
Um rosto de quem tinha um homem
Atrás do guarda-roupa lhe iluminava.
Feliz, subia no fogão e fazia ele
Ser bem ele mesmo. Dali a pouco
Um feijão bem temperado com a amor
E coentro, um arroz cozido com pimenta
Dentro, uma carne frita acebolada.
E cantava e cantava, e o medo nos empurrava
Dos assuntos de gente grande.
Se tentássemos falar dele
Em casa, minha mãe dava um tapa na boca,
“Não se pode falar disso em casa”
A tarde o homem queria passear
E ela ia na praça sozinha,
O homem queria sair com os amigos.
E ela melhorava o tempero, aumentava
O brilho da casa, e afinava as palavras
Com anil e água benta.
Atrás do guarda-roupa da minha vó
Tem um homem, que ninguém
Vê, a gente só sabe dele, porque
A vida flui de um jeito mais decente.
Mas ninguém pode falar dele.