Maresia
Soaram as canções de um novo tempo.
Há sementes nas rugas da terra.
Glóbulos brancos, vermelhos, hemoglobina explode nas minhas veias.
Cobri meu corpo de vinho tinto e me fiz puro sangue.
Um ar de aurora ventila meus pulmões.
E essa coisa, como que saída da placidez de um parto, era você.
Tu vinhas.
O teu cheiro, no entanto, chegava antes.
Teu perfume viajava com pressa.
E ia assim, ligeiro, avisar minhas narinas,
pra que liguem os neurônios.
Chegou a hora, vai começar o jogo.
No hipocampo, são milhões pra cada lado.
E no meu emaranhado de carbono e água,
Impulsos elétricos serpenteiam em procissão.
Vão buscar o dia exato, a hora precisa;
na qual, por magnetismo ou peça pregada ou desarranjo astronômico,
de Libra com ascendente em Peixes,
ou um daqueles feixes de luz que partem do infinito,
rompem a atmosfera das coisas,
e me põem por demais aflito;
Me dizer em sonho, quando tú havia de morar comigo.
E a pretexto de me deixar mais calmo,
a brisa interveio sobre as águas.
Me embalei naquele bailado.
As ondas refletindo a lua.
E agora bem mais sossegado,
Percebi que ao meu redor nada existia.
Tu vinhas.
E o teu cheiro, pelo barulho de uma concha, me dizia:
Dorme coração, não te aporrinha.