Maresia

Soaram as canções de um novo tempo.

Há sementes nas rugas da terra.

Glóbulos brancos, vermelhos, hemoglobina explode nas minhas veias.

Cobri meu corpo de vinho tinto e me fiz puro sangue.

Um ar de aurora ventila meus pulmões.

E essa coisa, como que saída da placidez de um parto, era você.

Tu vinhas.

O teu cheiro, no entanto, chegava antes.

Teu perfume viajava com pressa.

E ia assim, ligeiro, avisar minhas narinas,

pra que liguem os neurônios.

Chegou a hora, vai começar o jogo.

No hipocampo, são milhões pra cada lado.

E no meu emaranhado de carbono e água,

Impulsos elétricos serpenteiam em procissão.

Vão buscar o dia exato, a hora precisa;

na qual, por magnetismo ou peça pregada ou desarranjo astronômico,

de Libra com ascendente em Peixes,

ou um daqueles feixes de luz que partem do infinito,

rompem a atmosfera das coisas,

e me põem por demais aflito;

Me dizer em sonho, quando tú havia de morar comigo.

E a pretexto de me deixar mais calmo,

a brisa interveio sobre as águas.

Me embalei naquele bailado.

As ondas refletindo a lua.

E agora bem mais sossegado,

Percebi que ao meu redor nada existia.

Tu vinhas.

E o teu cheiro, pelo barulho de uma concha, me dizia:

Dorme coração, não te aporrinha.

Kaike Lamoso
Enviado por Kaike Lamoso em 21/05/2012
Código do texto: T3679893
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