Nada
Nada, nada, eu não sou nada,
Nada, nada, só agora o sei,
Nada, nada, minha vida é nada,
Nada daquilo que tanto sonhei,
Sei que sou nada, porque sou sozinho,
Um nada triste a soluçar num grito,
Um nada errante, a mendigar carinho,
Um nada obscuro, a decompor-se aflito.
Sei até que este soneto é um nada,
O nada de uma noite bem escura,
Com seu vento, sua chuva inesperada,
Que aviva muito mais a amargura,
De saber que minha vida é um nada,
Um nada, mesmo além da sepultura...
Santa Luz, l2. 02. 1965. Escrito num momento de profunda angustia e desespero..