Melancolia da degeneração






Ela não vai mais falar com Deus.

Oração para estabilizar
as ondas cerebrais sem controle.
Uma sucessão de palavras ôcas,
para auto-hipnose e esquecimento.
Tudo se reverberando pela caixa craniana,
processo absurdo de auto-convencimento,
dizendo que houve uma vida muito pior,
de um homem com instintos sangrentos.
Então será que ela não tem o direito,
de não suportar sua própria ferida?
De agora em diante ela é Cristo.
Com uma coroa de espinhos de plástico,
com o rosto ferido pelos golpes do asfalto,
e seu corpo anoréxico no linho estampado,
seus seios desejados por fiéis dissimulados.
Será no futuro o lugar onde desesperados
chorarão e farão seus desejos imundos.
Será o corpo de uma mulher ensanguentado,
no desenho de um santo tecido forjado,
desenhado à sangue e semem falsificados.

E pela luz de uma lâmpada, um diorama,
Ele  falará por enigmas mal ajambrados.
Onde na dança histérica,
para se espantar a peste e maus legados,
passarão os beijos do cardeal e do poeta,
do homem, da mulher, do anjo e do diabo.

Ela não vai mais falar com Deus,
nesses termos burocráticos.
Com a vagina exposta, num santo sepulcro,
será o que o Pai negou à minha fé,
e ao seu medo de ser crucificado.

Melancólica da supremacia do corpo.




EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 19/05/2012
Reeditado em 20/05/2012
Código do texto: T3676391
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.