Melancolia da degeneração
Ela não vai mais falar com Deus.
Oração para estabilizar
as ondas cerebrais sem controle.
Uma sucessão de palavras ôcas,
para auto-hipnose e esquecimento.
Tudo se reverberando pela caixa craniana,
processo absurdo de auto-convencimento,
dizendo que houve uma vida muito pior,
de um homem com instintos sangrentos.
Então será que ela não tem o direito,
de não suportar sua própria ferida?
De agora em diante ela é Cristo.
Com uma coroa de espinhos de plástico,
com o rosto ferido pelos golpes do asfalto,
e seu corpo anoréxico no linho estampado,
seus seios desejados por fiéis dissimulados.
Será no futuro o lugar onde desesperados
chorarão e farão seus desejos imundos.
Será o corpo de uma mulher ensanguentado,
no desenho de um santo tecido forjado,
desenhado à sangue e semem falsificados.
E pela luz de uma lâmpada, um diorama,
Ele falará por enigmas mal ajambrados.
Onde na dança histérica,
para se espantar a peste e maus legados,
passarão os beijos do cardeal e do poeta,
do homem, da mulher, do anjo e do diabo.
Ela não vai mais falar com Deus,
nesses termos burocráticos.
Com a vagina exposta, num santo sepulcro,
será o que o Pai negou à minha fé,
e ao seu medo de ser crucificado.
Melancólica da supremacia do corpo.