Palavras de Esgoto II
PALAVRAS DE ESGOTO II
Tenho um amigo,
Se chama violão,
Está sempre comigo,
Parece um irmão...
Era uma vez,
Uma menina briguenta...
Passou pela vida,
Virou planta sedenta.
Meu amigo se foi...
Me deixou um papel,
Pedindo uma rima
Que não fosse de fel.
Não sei mais rimar..
Esqueci de tocar.
Troquei tudo por todos, não sei mais andar.
Saí da depressão,
Porque achei que valia.
Ledo engano!
Beiro a morte, vazia...
Da santa rima
Nem sei mais...
O que era de prima,
Não é mais capaz.
Toca o vento, come poeira
As mãos tremem ao passar
Sem eira nem beira,
Vou vivendo vegetar.
Despeço de amigos,
Peço perdão.
Não tenho o alívio
Do meu violão.
Escrever é arte
Do sentimento preso ao papel.
O que no peito arde,
Queima a algema: vai para o céu.
Infinita cor da amargura,
Que confunde pessoas com instrumento musical.
Um vício de linguagem pura,
Perdido num pantanal.
Passa o tempo, e escrever é de gosto.
Passam os anos e as palavras são sempre DE ESGOTO..
Fecha a rima,
Troca a folha.
O que não tem sentido se sublima.
Sobe ao vento: uma bolha.
Perdão pela flor que não dei,
Pelo gesto que não fiz,
Pelo beijo que não beijei,
Pelo abraço que não abracei,
Pelos erros que errei,
Pelas lutas que perdi,
Pelo medo que senti,
Pela lágrima que chorei,
Pelos gritos que gritei,
Pelo amor que amei,
Pelo cansaço que cansei.
Perdão pela rima sem licença, sem perdão.
Pedaços de amargura e desgosto:
PALAVRAS DE ESGOTO...