papel
PAPEL
luizcarloslemefranco
A caneta disse ao papel:
“ vais ver como eu te sujo”.
-- Nem vem com este forféu,
porque se chegar eu fujo.
A caneta, então , mais diplomata –
--“esperes”, quero deixar um recado.
E o papel , pensando em ser mata-mata,
--que nada, isto me é pecado.
O escrevente precisando de anteparo,
desculpa – se , logo, da arrogância
e de um modo agora mais claro,
deu ao papel , relevância.
O papel, agora, querendo ajudar,
abriu-se em amplo sorriso
e deixou seu espaço ao ar.
A caneta fez o que era preciso.
Quem recebeu o bilhete
abriu aquele papel branco ,
que era aviso de um alcagüete
e num repente o jogou no barranco.
O papel, triste, bastante retorcido
ficou até eufórico quando então,
o destinatário, já arrependido
pegou-o de novo. Mas o jogou num latão.
O papel saiu magoado deste lixeiro,
foi depositado num monturo,
ficou junto a coisas com mal cheiro
e acabou por fim num estrado duro.
Foi lavado, secado, picotado ,
pintado, dobrado e guardado.
Virou agora papel reciclado,
para ser, de novo, rabiscado.
Lá veio um lápis, agora,
para repetir todo o escrito,
e o papel, sem demora.
fugiu para não ser mais visto.