papel

PAPEL

luizcarloslemefranco

A caneta disse ao papel:

“ vais ver como eu te sujo”.

-- Nem vem com este forféu,

porque se chegar eu fujo.

A caneta, então , mais diplomata –

--“esperes”, quero deixar um recado.

E o papel , pensando em ser mata-mata,

--que nada, isto me é pecado.

O escrevente precisando de anteparo,

desculpa – se , logo, da arrogância

e de um modo agora mais claro,

deu ao papel , relevância.

O papel, agora, querendo ajudar,

abriu-se em amplo sorriso

e deixou seu espaço ao ar.

A caneta fez o que era preciso.

Quem recebeu o bilhete

abriu aquele papel branco ,

que era aviso de um alcagüete

e num repente o jogou no barranco.

O papel, triste, bastante retorcido

ficou até eufórico quando então,

o destinatário, já arrependido

pegou-o de novo. Mas o jogou num latão.

O papel saiu magoado deste lixeiro,

foi depositado num monturo,

ficou junto a coisas com mal cheiro

e acabou por fim num estrado duro.

Foi lavado, secado, picotado ,

pintado, dobrado e guardado.

Virou agora papel reciclado,

para ser, de novo, rabiscado.

Lá veio um lápis, agora,

para repetir todo o escrito,

e o papel, sem demora.

fugiu para não ser mais visto.

lemefranco
Enviado por lemefranco em 17/05/2012
Reeditado em 18/05/2012
Código do texto: T3673761