(photo by Alison Brady)
MEMÓRIA
Abro a gaveta.
As lembranças saltam
diante dos meus olhos
grudam na pele
penetram os poros
invadem
tomam conta.
Já não sou mais.
Agora quem já fui
ri ou esconde o choro
sem decoro.
Criança e jovem
dão-se as mãos
giram na dança louca
do tempo.
Onde estou?
A poeira amarelecida
encobre descobre
segredos mofados
perdidos
sentimentos ilhados
momentos vividos
repartidos.
Quando parou?
Fecho a gaveta
depressa
antes que não queiram
voltar
à condição de coisas mortas
sufocadas pelas máscaras tortas
dos instantes idos.
Para onde vou?
Presa ao agora
efêmero e fugaz
no desencontro
entre o ontem o amanhã estou.
Não sou quem fui
tampouco quem serei
a vida flui
no abre e fecha duma gaveta.
Rio, 17.05.12