RECONSTRUÇÃO
 
No chão, no vão,

nos sonhos interrompidos,
tu caminhas altaneira
na escura madrugada
deslizando bem ligeira
como se pesasses nada,
sem fazer qualquer ruído.
Na loucura da visão
(terei, eu, enlouquecido?),
eu te sinto por inteira,
silenciosa e calada,
uma linda feiticeira
que passa a noite acordada
colhendo sonhos perdidos.
Não hesito, dou-te a mão,
meio ainda adormecido
na esperança alvissareira
de que tu, que és minha amada,
serás a mulher rendeira 
que, com seus dedos de fada,
refazerá o bordado
que pensavam destruído.

À luz clara da alvorada,
se fará a caminhada.

                  Para Deley e seu belo soneto "Nuvens"
          http://www.recantodasletras.com.br/sonetos/3548914