Sob O Céu De Mouros

Outra vez a dar-me ludíbrio

Té que minha soledade olvide

Deixa-te andar em arroio sob o aljôfar

Se assim é que tu queres mitigar tua dor

Outra vez meu coração faceto

Porfia increpar a flama desta paixão

Sem preocupar-se com a dilação tua

À cada dia mais florente

Outra vez a uniformar sentidos

A sulca sucinto pelas águas do Capibaribe

E assim me despido de ti com o coração eclipsado de saudades

Tu segues pela fria ufano sob a luz de um corisco

Outra vez cobrada com o coração patente

A ungir minh’alma incalta

A esperar por ti, Adônis

A lembrar do vau do Tejo

Outra vez não sei parte tua

Presa à galhardia desta brisa doce

Té lograr teus santos beijos

A esperar como Fênix com o desejo de Ícaro

Outra vez a esperar tua galeota empavesada

Do alto de uma penha apresta contigo

A tua espera já presumida e airosa

E eu cá de cima inda a dar a deus a ti

Outra vez repleta de pensão

Sem o mínimo contento ou desafogo

E este fado escreve-se porfia

Dentro desta oficina que é a vida

Outra vez sem alento

Com o coração fero

E ainda assim compassivo e ditoso

Querendo eu despenhar-me desta fraga para a ti encontrar

Outra vez a corroboar que eu te amo

A te lisonjear e ostentar meus sentimentos

E então causar-te frágua com o toque dos lábios meus

E assim transladar teu feitio zorro

Outra vez apetecer teu corpo forro

Cometer rapazia de pecado

E assim protesto desaferrar teu zênite

Animoso eres a enfrentar tropel à ser ditoso ao lado meu

Outra vez a desaterrar sonhos

A amainar tormentas

Navegando em baixel se preciso for

Liberalmente com nacarada face te soçobrar

Outra vez sôbolas águas reputadas deste rio

Bramar-me e assim embravecer

A destruir penedo e obelisco

Se assim o meu amor for ludibriado

Outra vez a olhar sob o céu de Mouros

Me despido das brumas

A carregar esta tristeza peca para longe daqui

E assim deixaire imenso amor unindo céus e mares

* * *

Sandra Franco Der Rosenrot
Enviado por Sandra Franco Der Rosenrot em 17/05/2012
Código do texto: T3672458
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