Noite de chuva
Cai a chuva nesta noite escura,
Como lágrima, cristalina e pura,
Pelo telhado, lentamente a rolar.
E ouço neste cair ritmado,
O esvoaçar de um sonho do passado,
Que o tempo não consegue apagar.
Nesta orgia, a terra toda treme,
Quando o vento trepidante geme,
Cortando velozmente a amplidão.
E no meu peito, a saudade mais chorosa,
Faz esta noite mais fúnebre e pavorosa,
Mais augusta e assustadora a solidão.
Se o Cristo ouvisse, nesta noite fria,
De minha alma a amargura desta sinfonia
Por certo choraria noutro calvário,
Quem sabe, mudaria este meu fadário,
Povoando de alegria este meu viver.
E este inferno de terríveis dores,
Que sempre me priva de bons amores,
Nunca jamais terá o próprio fim.
Porém viverei de um doce passado,
De um maravilhoso sonho acalentado,
Atualmente retido dentro de mm.
Periperi, 10.08.64.
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