Cais

Eu vejo teu barco sumir no horizonte

De fato, já nem o vejo mais

Há dias que a única coisa que há

É a leve impressão, em que lá no fundo

Há as suas velas, com o vento a roçar

Nem sempre foi assim

Por muito tempo você esteve aqui

Parado de frente ao cais

Ou se afastando lentamente

E retornando em dias de tempestade

E antes ainda, nem barco possuía

Você fora terra firme

Você fora a terra firma que eu ousei nomear como minha

Mas sempre há muitos poréns

E o tectonismo nem sempre faz bem para as relações

Eu me conformo

Piso firme nessa terra que não sei de quem é

Terra instável, terra infértil

Não sei o que quero, nem o que procuro

Fico apenas a rondar no cais

Desamarro velas, soltos ancoras

Ainda hei de achar um barco para partir

Mas não mais o que a ti pertenceu

Eu procuro um barco pra chamar de mim