número 35
Era a manhã de um agosto
De 1980.
No muro branco escrito
De preto: Para prefeito
Vote em Doutor Jaime
Ou em vermelho com
Letras de quem tem
Mais dinheiro:
Nogueira é o prefeito
Do Amor.
Agente não sabia nada
Das coisas que os muros
Falavam: havia
Um mundo que se apartava
Da gente, que não se misturavam
Como água e óleo de tão
Diferentes que eram.
A vida que colava nas
Nossa palavras eram
Essas que falavam de feijão
De arroz, de café à granel.
Ou das meninos que
Moravam na rua de cima
E também não entendiam
De muros ou de prefeitura.
A minha cidade era outra
A minha cidade ficava
Na rua Jacarandá, número
35, ali era a entrada de
tudo que podia existir.
As vezes de susto
Percebia algo além dos
Limites, um pássaro,
As árvores atrás do muro
Politizado, ou a rua
Que raramente ultrapassava
Os limites do número 35.