número 35

Era a manhã de um agosto

De 1980.

No muro branco escrito

De preto: Para prefeito

Vote em Doutor Jaime

Ou em vermelho com

Letras de quem tem

Mais dinheiro:

Nogueira é o prefeito

Do Amor.

Agente não sabia nada

Das coisas que os muros

Falavam: havia

Um mundo que se apartava

Da gente, que não se misturavam

Como água e óleo de tão

Diferentes que eram.

A vida que colava nas

Nossa palavras eram

Essas que falavam de feijão

De arroz, de café à granel.

Ou das meninos que

Moravam na rua de cima

E também não entendiam

De muros ou de prefeitura.

A minha cidade era outra

A minha cidade ficava

Na rua Jacarandá, número

35, ali era a entrada de

tudo que podia existir.

As vezes de susto

Percebia algo além dos

Limites, um pássaro,

As árvores atrás do muro

Politizado, ou a rua

Que raramente ultrapassava

Os limites do número 35.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 15/05/2012
Código do texto: T3669072