Eu cá cismava um verso,
Que não saiu de jeito nenhum.
O dia inteiro em cima dele
E ele a fugir de mim.
Arisco, inquieto, rebelde, indomável,
Passou incólume pela dor de senti-lo
Traspassar-me este vazio da alma.
Algo de infértil que nunca entendo,
Algo de deserto e distante, perdido no tempo...
Este vazio da alma que é não saber,
Não poder, não querer, não sentir,
Não lutar, não amar, não fugir,
Não pensar, não sonhar, não mentir.
E tragar todo o fel da verdade
De toda a verdade que a dor conseguir.

Não repudio esses versos arredios,
Ainda que eles me dêem arrepios,
Ainda que como rios me arrastem
E assim tão frios me devastem
Por fora e por dentro, por bem
Ou pelo mal de ter de haver poesia
Nuns versos meus assim tão vadios.
Nos arredores de um imenso vazio
Onde a alma com medo se esconde
E segura toda essa vida só por um fio.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 14/05/2012
Reeditado em 07/05/2021
Código do texto: T3667483
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