EVA DOLOROSA
Era uma Mãe do Céu e suas sete dores.
E também sete mães e muitas dores.
Muitas Evas de Dolores, mães do Alto e da Terra.
Evas em mim.
Várias.
Fadas e Bruxas. Santas e Profanas.
Quantas Evas habitam
Na memória atávica das células
Do útero e corpo,
Da pele, um dia fustigada?
Ou na alma, um dia magoada?
No coração, um dia abusado?
Na reação, devolvida a ferro e a fogo
Por necessidade mas sem vontade?
Na omissão, escolhida sem titubeio,
Por medo ou coerção?
Nos planos, sonhos e fracassos?
Maçãs envenenadas já nas macieiras?
No filho que não vingou ou foi embora, sem olhar pra trás?
No capricho de ser amante, entre gozo e alegrias?
Nas saudades, nas lágrimas nunca enxugadas?
No amor que veio mas ficou pouco, partiu?
O peito traspassado pelos espinhos das rosas
Que chegaram com um bilhete perfumado
E palavras de um lírico poema?
A minha, há não muito tempo...
A Eva Dolorosa desceu ao Inferno naquele dia.
(2005)
Imagem original de Ugly, trabalhada por KML