Wishing
O último pedaço de duas pizzas que foram compradas
Os copos de ontem e anteontem no móvel do computador
A mesma carta do FGTS aberta, com um saldo nada decente
Que só poderei usar se contrair AIDS, câncer ou então morrer.
(Essa é uma daquelas catarses forjadas, instiladas sob os auspícios da falta de coisa melhor para fazer ou falar ou pensar ou escrever)
A estante recheada de livros
Que não li
Que nunca abri
Que não gostei
E que nunca abrirei.
A piranha da Bovary
O marinheiro chato do Hemingway
O choramingas do Leite Derramado
As logorréias paradisíacas do velho Hesse.
Desinteresse.
Queria algo pra alisar.
Tipo uma bunda; branca, redonda.
Queria algo para desalinhar com os dedos.
Tipo um cabelo; longo, negro, liso, lindo de morrer.
Água da torneira. Borra no fundo do copo. Caixas que não pegam.
Cortadores de unha. Roupas amontoadas numa cadeira de bar.
Calhamaços de textos que não valem nem nunca valerão nada.
Meus olhos de quem trabalhou 10 horas diante de planilhas ardem.
Meus olhos de quem acordou 21 horas atrás queimam, pesam.
Eles repousam, bêbados, na paisagem que estou cansado de ignorar.
Eles vêem ausência de significado em tudo que contemplam.
Afora duas bolas de pelos que me procuram pra dormir
Nada parece valer cinco segundos de atenção.
(Essa é a parte que a catarse enfim ganha entonação sincera, porém, as palavras certas para sintetizar essas emoções do corpo fogem)
Que saudade da porra!
Essa modorra: maldade!
Que porra de cansaço!
Que é dormir
Sem teu abraço.
12/05/2012 - 02h19m