TALVEZ

Talvez eu precisasse hoje
desperdiçar um pedaço da vida
em bobagens (como queria Borges).

Talvez conseguisse transformar
em coisas idiotas antigas verdades.
Desligaria a velha eletrola
que toca apenas baladas antigas
e livraria meu peito
de repetidas e esgotadas saudades.

Talvez hoje eu pudesse voar
os voos dos insanos desejos
de minha alma censurada
por pensamentos sinceros,
ainda que absolutamente íntimos.

Talvez eu pudesse me descuidar,
por fim, dos amores bastardos
que inutilizaram meu coração ingênuo.

Talvez eu pudesse ser outra vez
livre,
como fui uma vez,
antes de amar e ser amado.

Talvez eu pudesse de novo sentar
na pedra da beira do rio da minha terra
sem ter o peso de sonhar o futuro.

Talvez eu pudesse, hoje,
parar de mentir a mim mesmo.
E, ao invés das desculpas banais,
tomasse a decisão de te esquecer.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 09/05/2012
Reeditado em 25/07/2014
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