TRIBUTO AO MEU FILHO.
Filho querido, bendito,
fique bem.
Longe perto, não importa, esteja bem.
Esteja aquecido, esteja menino,
onde quer que pouse.
Seus ossos poderão cambalear, marejar, atolar,
sua voz poderá enferrujar, desmilinguir,
sua mão poderá não conseguir mais parir,
nem sorrir, nem rugir.
Fique bem, filho.
Mesmo que os ventos esfriem cada teco da sua alma,
nos vãos da dor sempre terá meu chão pra te acudir, pra te aninhar,
pra te sacudir, se preciso for.
Nas feridas berrantes do medo, você não será sombra solitária,
não mesmo, nem voz áspera ou tampouco arredia.
O tempo poderá dobrar seus joelhos, vazar seu sangue,
teimar em morder a sua paz.
As suas cores poderão se perceber órfãs,
de forma que você não saberá mais onde acorda o céu,
onde dorme inferno.
Mas, filho, tudo isso terá sono leve.
Quando menos esperarmos, teremos as flores de volta,
todas elas, acredite.
Dessa vez não serão os lamentos que te farão feroz,
ou cambaleante nas suas certezas,
nas suas varandas mais bonitas.
Nem, tampouco, será o vazio dos risos que desnudará sua raiva,
nada disso.
Quando sua alma se fizer carne,
quando seu chão se fizer leito,
quando sua melodia se fizer mulher,
voltaremos os dois para casa.
Atracados no mesmo ar,
irmanados na mesma paixão
que só pai e filho saberão ter,
que só pai e filho saberão viscerar.
E de lá nunca mais arredaremos pé.
Dedicado ao meu primogênito David.