Maçaroca
Dois mil dias
De sofrimento
Já tem outro,
Um rapozote
Cheio de carros
E pele.
Que tem prancha
De verniz...
Só anda descalço
Que pinta de incolor
Os dedos dos pés.
E sorri de qualquer coisa
- Ele é divertido – ela me disse.
Querendo me ferir.
E eu fingindo
De imortal,
Querendo ser rei, acima
Do limiar do bom senso
Vendo verdura, onde
Só tinha pedregulho
E graveto.
E como falava em
Dinheiro. Não tirava
Essa palavra da boca
Dormindo seus lábios
Não se tocavam.
Janaina dizia que me achava
Chato...
Que culpa tenho
Eu se sou chato?
E eu..
Construindo igrejas
Limpando palácio
Varrendo a calçada
Pintando a janela
Comprando flor
Pra colocar na sala.
Lendo a parte política
Do jornal.
Engrossando a voz,
E dizer bonito
Como se ela soubesse
De tudo mais do que
Eu...
Descobri que existe
Muitas palavras inúteis
Que funciona no amor
- Para de ser assim. – dizia
Praticando seu dom:
A de achar só defeito
Eu querendo acertar
De ficar reto. E como
Era difícil ficar reto
Diante da certeza
Do olhar de Janaina.
Ela não se dobrava
Nunca, podia vir
Uma tempestade
Um vendaval
Que seu prumo
Continuava apontando
Pro céu.
E eu envergado sobre
A terra, um arco
Sem carteira assinada.
Forçando o sorriso
Pra ser bem aceito.
Fazendo olhar
De galan de televisão.
Tanta roupa que comprei
Nem me sinto bem
Dentro delas...
Na academia correndo
Igual um besta,
Levantando aquele peso todo
Tomando toda aquela água...
E ela fogosa
Tomando martine
Pulando de montanha...
com aquele cabelo
de maçaroca...