A vida é um esplendor

A porta

Não está fechada:

Entreaberta

O vento entra

O sol e o cheiro

Da rua,

Viva, movimentada,

Como artérias levando

Ao coração do homem

O gosto das coisas.

Carregada de cores e carroças.

De calçadas rachadas

Quebradas, onde

Alunas descem da escola

Normal São Pedro

E onde, mais tarde

Vai namorar a filha

De Antônio dias,

A mais bonita

Da rua. Vai engravidar

E junto enterrar

Toda sua inocência.

E mesma rua que vai

Ser cada vez mais

Ignorada, quando

Os jovens descobrirem

Que é Praça Arlindo

Correa que existe

Muito mais esperanças

Andando de saias e tamancos

De aço,.

De caminhos tortos

E vidas sem rumos

Absortas, rendidas

Ao peso dos sonhos,

Sonhos fragmentados

Chocados à inexorável

Força da realidade.

Bêbados e drogados

Chorando por mais

Uma picada de esquecimento

Mais uma fuga: “Só mais

Prometo ficar quando voltar”

Os caminhões

Que carregam entulhados de

As infâncias defeituosas

Arranhadas, embrutecidas

Descabidos de coração,

Sem ainda saber o que

Houve com a terra dos meninos

E toda sorte de vagabundos

Que num parto mudo

Rouba nossa riqueza,

E rouba, sem pensar,

Como crianças mimadas.

Que nunca ouvia a frase

“Esse carrinho não é seu”

E os olhos

Que reflete a fresta

No fundo de um caduco

E cansado velho,

O mesmo velho

Que numa tarde de sua vida

Longa, viu através frestas

E não resistiu e se vestiu

De uma santidade de botequim,

Que encarcera

O seu coração em flor,

Uma dançarina rir

Na ponta dos pés.

E bate palmas, pois sabe

Que a vida é um esplendor!

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 08/05/2012
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