A vida é um esplendor
A porta
Não está fechada:
Entreaberta
O vento entra
O sol e o cheiro
Da rua,
Viva, movimentada,
Como artérias levando
Ao coração do homem
O gosto das coisas.
Carregada de cores e carroças.
De calçadas rachadas
Quebradas, onde
Alunas descem da escola
Normal São Pedro
E onde, mais tarde
Vai namorar a filha
De Antônio dias,
A mais bonita
Da rua. Vai engravidar
E junto enterrar
Toda sua inocência.
E mesma rua que vai
Ser cada vez mais
Ignorada, quando
Os jovens descobrirem
Que é Praça Arlindo
Correa que existe
Muito mais esperanças
Andando de saias e tamancos
De aço,.
De caminhos tortos
E vidas sem rumos
Absortas, rendidas
Ao peso dos sonhos,
Sonhos fragmentados
Chocados à inexorável
Força da realidade.
Bêbados e drogados
Chorando por mais
Uma picada de esquecimento
Mais uma fuga: “Só mais
Prometo ficar quando voltar”
Os caminhões
Que carregam entulhados de
As infâncias defeituosas
Arranhadas, embrutecidas
Descabidos de coração,
Sem ainda saber o que
Houve com a terra dos meninos
E toda sorte de vagabundos
Que num parto mudo
Rouba nossa riqueza,
E rouba, sem pensar,
Como crianças mimadas.
Que nunca ouvia a frase
“Esse carrinho não é seu”
E os olhos
Que reflete a fresta
No fundo de um caduco
E cansado velho,
O mesmo velho
Que numa tarde de sua vida
Longa, viu através frestas
E não resistiu e se vestiu
De uma santidade de botequim,
Que encarcera
O seu coração em flor,
Uma dançarina rir
Na ponta dos pés.
E bate palmas, pois sabe
Que a vida é um esplendor!