A PAIXÃO NÃO É O MUNDO soneto III
A paixão não é o mundo. Conceber
Que da mulher e do homem a porfia
Seja (de quanto há) o que mais vale ao ser
É a mais inerte e vã filosofia.
Nela teus sonhos hão de perecer
Quais tuas reflexões, à revelia;
Morrem a sanidade, o afã, o querer,
E os amigos (se é que os tiveste um dia...).
Tu mesmo morres, por conta da face
Que crias para a tua sobrepor,
Permitindo a outrem que teu fado trace.
Mas eis que também és o matador,
Pois não evitas que o ardor teu embace
A imagem turva a quem prestas louvor.