Encenação crística-dionisíaca
Meu peito arde em dor,
confusão inebriante,
estupor em não compreender
as chamas que me queimam.
Os pregos em minhas mãos,
porto das cordas
com as quais me move,
rasgam minha carne.
Dai-me mais de si!
Venha ser carne como eu!
Doeu-me sua lança em mim,
espada flamejante
a cortar-me as cordas.
Ainda resta a Cruz.
Você, então, me seduz
a encará-la com firmeza,
como carneiro selvagem
a galopar nos montes.
Você está aqui?
Além das cordas,
voce está aqui?
Uma imagem de mim
diante de mim
e no fim percebo
que o ator encena
sua própria dor
através de mim.
Você está aqui
e me diz para encenar consigo,
como amigo,
não mais personagem.
Percebo que sou sua imagem,
sua voz, sua carne,
seu cárcere, seu amor,
veículo de seu espírito,
que encena a si mesmo.
Depois, dor, imcompreensão,
no vazio de mim.
Não vejo mais nada,
por que me abandonou?
_ Não me vê, porque agora,
eu sou você!