Águas-vivas
Parece fazer carícias, porém...
Gruda, destrói com fogo, causa ferimentos.
Só solta quando repara que já vai deixar a sua cicatriz.
Se é funda ou se é superficial,
Só está sujeito à nossa capacidade de suportar,
Aos nossos movimentos, às nossas negativas ou resignações...
Já tiro de letra as que permanecem na superfície, visíveis, bailarinas.
Evito-as, de uma a uma, veloz.
Comemoro vitórias, antecipadas, inclusive imaginárias.
Mergulho no mar, sem receio, com um “pseudo-cuidado”.
Às vezes, justamente no momento de sair calco em uma.
Berro. Derramo Lágrimas. Enfureço-me. Procuro elevar o pé.
Infalível. O estrago já está feito.
Responsabilidade minha? Ou dela?
Ou das duas? Ou de nossa condição? Ou de nenhuma?
E isso, na realidade, interessa?
Cuido dos machucados,
Desejando que a única acometida desta vez seja a pele.
Que a alma não sofra ao se recordar deste instante
De frustração, de dor,
De ardor, sofrimento, medo intenso.
Juro jamais adentrar no mar.
Prometo ser mais zelosa comigo própria.
Mas o mar... ahhh, ele sempre me chama!
E lá estou eu novamente, dentro dele, em situação de risco,
Apesar dos factíveis danos.
Viver, como diria Guimarães Rosa, é correr perigo.
Quem sou eu para não concordar com ele!
Quem sou eu para renunciar viver...