Itinerante
Começo a desmontar o universo, depois do espetáculo.
Com seus dois pés dentro dele,
não percebeu a dimensão do teatro.
Agora retorno á minha antiga forma.
Carne e sangue se tonam mármore,
pensamentos e sonhos, se tornam cálculos.
A dor se converte em pulsos magnéticos,
e o amor me coloca num pedestal,
de onde contemplo o futuro horizontal,
sem nehuma sombra que apareça
na esquina atrás do mundo.
O amor não se converte em nada,
apenas espreita atrás da cortina.
Por aqui, vou encaixotando cenários,
alimentando os cães mendigos,
e esperando que a última luz se apague,
para que eu adormeça, solitário.
Autor da fábula mineral que sou,
aguardo agora o despertar da fúria,
para novamente encenar esta guerra.
Onde eu sou a lança e a morte a redenção.
Eternizado por pinceladas cruéis,
no pano de fundo de um cálculo complexo.
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Imagem: "O rapto das Sabinas" de Jacques Louis David