NUNCA RIMEI

É não tenho mais rimas

Só palavras amargas

Só o fel

Sou um velho e amargo limoeiro

De meus frutos ácidos nenhuma doçura se faz

Nem com açúcar

Nem com mel

É... hoje é dia de calar

De olhares silenciosos

Contemplação que nada percebe

Dia de apenas existir sob o céu

É... Ninguém me entende hoje

Posso ver as indagações em seus olhares levemente incomodados

Terei visto piedade neles?

Rogo que não...

Espero que se piedade eles tem todos saibam cala-la

Oculta La...

Afoga-la

Se a mim vierem piedosos eu revidarei com implacável frieza

Piedade é um sentimento terrível

É como o rebotalho da alma

Ter pena é para cães

É por cães

É para cães

E eu... eu amigos...

Ainda não sei latir

Embora possa rosnar...

E até morder

Sou feroz e mordaz quando preciso

Quando quero

Em meu peito existe selvagem e primitivo um feroz homem Neandertal

Uma força que se espraia em meu cérebro em dias difusos

Que afasta o poeta em mim

Rosna pra ele?

Amedronta meu poeta?

Talvez...

Ou apenas troca com ele de domínio...

Apenas cede a vez

E no fim de tudo

Com todas as coisas claras e expostas

Hoje ainda é dia de calar

É dia de não rimar

Que eu me recorde...

Nunca rimei.