Redenção







É tudo uma questão de encadear palavras certas.
E das palavras que nascem imaculadas,
impingir imagens divinas ou meramente
extrair dos meus vermes e excrementos,
os significados com as quais mancharei os fonemas.


Com as ferramentas que tenho à mão,
Deus me disse: vá, e diga ao mundo.
O quê? Não se sabe...
Tenho, pois, uma orquestra impaciente,
que quer a todo o instante gritar, solene.
E para que fale, com a voz conveniente,
Deus me tira o que me torna humano,
porque mesmo os pretensos deuses,
são inexplicavelmente perenes.

Acaso acham que aqui estou falando
de poesia para acalmar um rebanho?

Se não entende com seus olhos,
muito menos com sua mente,
é porque devo ser humano demais,
devo ser perverso demais.
Vivo de manipular os acasos,
penso que sou deus e sou apenas,
uma larva rastejante descontente.

Acaso acham que aqui estou falando
da fé que regurgita a poesia?

Em breve não serei semente, nem embrião,
nem cinzas, nem algo que valha um choro.
Porque só vale o choro pela perfeição.
Não por uma pequena luz da terra,
tão cambiante,
que esteve tão próxima da beleza,
ao ponto de se sufocar e ficar inconsciente.

Não venham comigo, pois não faço sentido.
Não me atendam, pois eu apenas contamino.
Enveneno poesias e ofereço aos amigos,
infecto a racionalidade e com ela curo almas,
para que seus portadores me sejam 
eterna e irreversivelmente cativos.



EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 05/05/2012
Reeditado em 06/05/2012
Código do texto: T3651837
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