entranhas de pedra

A poesia vinha do chão

Da terra seca e voraz,

Dos vermes e dos estrumes

E do céu sem certidão.

No rio as mulheres lavava

O sujo que na vida colava

Os erros não contabilizados

Os escondidos e os agravos

Era coisa que não via

Com os olhos condicionados

Uma alma mais esperta

Percebia tudo do lado

Corroendo o dia-a-dia

Um veneno que explodia

Uma tristeza amortecida

Deixava a casa vazia.

E os meninos choravam

De fome e de maus-tratos

Sem o gosto de flor doutro

Tempo, de pura bondade

E a mãe, coitada

Sofria sem poder ajudar

De ver os bichinhos tão

Tristes, sonhando ser carregado

E a chuva não vinha

A terra encrudescia

Se cortava por dentro

E a fome repetia

Orava toda tarde

De noite e de manha

Pra que venha Santa

Maria, redentora do amor

E nada adiantava

O retrato da santa

Não diz nada, só

Os lhos serenos,

Vigiando a jornada

E a família procurava

Algo de valia, mas

De todo o sofrimento

Só sobrava a poesia..

E os meninos comia

O barro seco da estrada

O sol quente do céu

O prato sem enchimentos

Mas a vida era verdade

Pois não havia fingimento

A pedra era uma pedra

A vida, sofrimento

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 05/05/2012
Código do texto: T3651122