entranhas de pedra
A poesia vinha do chão
Da terra seca e voraz,
Dos vermes e dos estrumes
E do céu sem certidão.
No rio as mulheres lavava
O sujo que na vida colava
Os erros não contabilizados
Os escondidos e os agravos
Era coisa que não via
Com os olhos condicionados
Uma alma mais esperta
Percebia tudo do lado
Corroendo o dia-a-dia
Um veneno que explodia
Uma tristeza amortecida
Deixava a casa vazia.
E os meninos choravam
De fome e de maus-tratos
Sem o gosto de flor doutro
Tempo, de pura bondade
E a mãe, coitada
Sofria sem poder ajudar
De ver os bichinhos tão
Tristes, sonhando ser carregado
E a chuva não vinha
A terra encrudescia
Se cortava por dentro
E a fome repetia
Orava toda tarde
De noite e de manha
Pra que venha Santa
Maria, redentora do amor
E nada adiantava
O retrato da santa
Não diz nada, só
Os lhos serenos,
Vigiando a jornada
E a família procurava
Algo de valia, mas
De todo o sofrimento
Só sobrava a poesia..
E os meninos comia
O barro seco da estrada
O sol quente do céu
O prato sem enchimentos
Mas a vida era verdade
Pois não havia fingimento
A pedra era uma pedra
A vida, sofrimento