Kol Nidrei






Apenas o silêncio e o barulho dos carros,
bem resolvidos e bem compartimentados,
filtrados pela indiferença dos meus ouvidos.
Apenas a ausênia e a presença imaterial,
de um prego alojado na caixa toráxica,
atravessando os ossos e atingindo o coração.
É saudade, é resignação, é condenação?

No instante em que a preguiça me ensina,
deixo de correr por estas estradas curvas,
para ouvir o que diz minha lógica inventiva,
e entendo no caminho o por quê do irregular,
sendo que tudo poderia ser correto e linear.

É que tudo veio sem identificação precisa,
sem classificação e sem calibração.
E entendo que titular soluções afetivas,
não depende da previsibilidade matemática.
É mais lidar com a fé em estruturas invisíveis,
e encontrar a verdade sem volume e massa.


Apenas o silêncio e o barulho dos carros,
bem distantes e bem guardados,
num ponto distante de minha corrida pelo espaço,
são de fato minha história, da qual agora me desfaço,
despejando na tinta da caneta, dançante, sem freio,
os últimos instantes de uma reflexão sobre o zero absoluto,
sobre a evaporação de enganos de uma alma solitária,
que leva a mão ao peito e faz uma saudação:
que o futuro seja melhor que o passado,
que meu juramento seja mais verdadeiro,
do que foi minha lealdade pela metade.
Tudo resolvido. Tudo arquivado.




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Imagem: detalhe da pintura "El caballero con la mano en el pecho" de El Greco.
EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 05/05/2012
Reeditado em 05/05/2012
Código do texto: T3651084
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