O Cavalo Negro

Estava eu e Bel

Irmãos de estrada e boemia

Os dois sentados á beira do rio

Deixei - o sentado e comecei a andar

Não disse a ele uma só palavra

Simplesmente levantei, pois algum

Chamado havia me provocado.

A estrada estreita e arenosa, rodeada

De um milharal seco e cavernoso

Protegida por uma milhão de espantalhos

Se encompridava ao barulho de meu passo

Num infinita criação por necessidade

Olhava pra atrás, meu amigo sentado

De cabeça baixa, ainda preso á beira do rio

Eu prossegui e o medo forte de morrer

E de não existir a partir daquele movimento

Apareceu pra mim: Um cavalo negro à galope

Me perseguindo, e o barulho seus cascos

Me desejava e me apavorava

Não sabia pra onde eu estava indo, mas uma força

Subterrânea me indagava, me provocava

Me dizendo em sinais invisíveis porque

Eu, que sempre estive do lado dos fracos

Quis pegar tão forte no meu andar.

Sem respostas, meu corpo era o general

Acreditei nele, e apesar do negro calvário

Que me seduzia, o sol vermelho e perfumado

Que estava na minha frente corrigia meu traçado.

Fortalecia minhas pernas e me trazia otimismo.

Fechei os olhos e um passado assombrado

Veio em minhas lembranças, memórias

Esquecidas, afundadas na inconsciência

Me julgava, me maltratava, como se a verdade

Delas ainda fosse a única maneira de existir

Respirei da minha barriga um futuro

De fogo, de estrada cortada e de olhos

Perfurantes. Trouxe de um tempo

Remoto e extravagante uma força

Descomunal, tragada de abismo

Tão amedrontador como o cavalo

Negro que me perseguia.....

Foi quando parei armado

De todas as lembranças de heroísmos

Que eu havia enterrado dentro de mim.

Esperei o cavalo negro, que não se cansava

De dar forte golpes de pernas contra o chão...

O meu destino eu já não sabia

O cavalo negro em pé com sua verdade,

Que voava baixo atrás de mim,

Amedrontou, porque na sua frente

Estava o seu destino. Ele mesmo!