Papel de Seda
A roupinha azul de Verinha
Varria a gente de amor
E eu me atormentava, pois
O sabor de minha Bahia
Cabia inteiro no seu vestido
Balãozinhos desenhados
Uma menina magrela
Bem pretinha correndo, de
Cabelinho Sarará.
Um senhorzinho coronel
Com seu arzinho de arrogância
E quando balançava por
Algum remelexo do quadril de Verinha
Aquela vida pregada no tecido
Agitava mais um pouco.
E ela dentro dele.
Nem ai pra essas conversas
Cortando o ar com seu requebrado
E sua boca me olhava inocente
E eu já tinha maldade.
Cada vez que me olhava
Eu guardava aquilo em
Algum balaio do tempo
Retinando a luz que vinha
De sua dança...
Tão guardada,
Acima de Minas,
É minha Bahia
Grande, potente
Misteriosa, diversa
Dançando o ano todo
De forró de São João
Das micaretas arretadas
De gente bebendo até esquecer
Da vida
De dona Railda lavando
Roupa...
Das catedrais, dos senhores
Coroneis, donos do mundo
Da pobreza, da miséria
De acordar e não ter o de-cumê.
Da procissão de São Pedro
A multidão querendo tocar
Suas mãozinhas
E a criançada nem ai com nada
A fogueira de São João
De Seu Raul, não ligava
Pra isso
Entidade autônomo
Dona da festa e da alegria
Acima dela, balãozinhos
Pedurados. Muitos dias
Trabalhados com Papel de seda
E cola de farinha de goma, fervida
Na chama do fogão de lenha.
no meio desse caldo
verinha ainda dança