Papel de Seda

A roupinha azul de Verinha

Varria a gente de amor

E eu me atormentava, pois

O sabor de minha Bahia

Cabia inteiro no seu vestido

Balãozinhos desenhados

Uma menina magrela

Bem pretinha correndo, de

Cabelinho Sarará.

Um senhorzinho coronel

Com seu arzinho de arrogância

E quando balançava por

Algum remelexo do quadril de Verinha

Aquela vida pregada no tecido

Agitava mais um pouco.

E ela dentro dele.

Nem ai pra essas conversas

Cortando o ar com seu requebrado

E sua boca me olhava inocente

E eu já tinha maldade.

Cada vez que me olhava

Eu guardava aquilo em

Algum balaio do tempo

Retinando a luz que vinha

De sua dança...

Tão guardada,

Acima de Minas,

É minha Bahia

Grande, potente

Misteriosa, diversa

Dançando o ano todo

De forró de São João

Das micaretas arretadas

De gente bebendo até esquecer

Da vida

De dona Railda lavando

Roupa...

Das catedrais, dos senhores

Coroneis, donos do mundo

Da pobreza, da miséria

De acordar e não ter o de-cumê.

Da procissão de São Pedro

A multidão querendo tocar

Suas mãozinhas

E a criançada nem ai com nada

A fogueira de São João

De Seu Raul, não ligava

Pra isso

Entidade autônomo

Dona da festa e da alegria

Acima dela, balãozinhos

Pedurados. Muitos dias

Trabalhados com Papel de seda

E cola de farinha de goma, fervida

Na chama do fogão de lenha.

no meio desse caldo

verinha ainda dança

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 03/05/2012
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