"Há uma África em mim"
Há um Saara em mim
Ele vive e se manifesta
Na festa dos ventos que me levam
Nos meus pensamentos
Sou a fartura do pó que voa no vento
E engole as gotas no chão
Beduíno das cáfilas rondando a imensidão
Há tantas savanas em mim
Guardando o selvagem que sou
O mesmo que me devora a carne nua
No império dos sentidos
Onde impera a mãe natureza
Sobre a destreza
Dos ávidos e vorazes instintos
Há tanta fome em mim
Nas sombras que perambulam
Mastigando migalhas
Que estalam nos dentes rarefeitos
E são devoradas pela fome animal
Deixando silhuetas de olhos arregalados
Estendidos no chão
Vestes de ossos e pele abandonados
Mais, há tanta vida em mim
Apesar do choro das minhas mães
E dos vírus que andam imunes
Desafiando-me com a cumplicidade do mundo
Que parece temer ser contaminado
Ao me estender a mão
Não, não temas mundo
Meu sorriso é fecundo
E um dia, ainda vamos bailar
Sob os sons dos tambores da África
Um dia, a cor escura da minha mão
Poderá a ti ser estendida
Quem sabe, para evitar que se afogues
No oceano da indiferença
E assim possamos juntos ter sobrevida
Varley Farias Rodrigues