De frente ao espelho
De frente ao espelho
Mãos trêmulas acariciam um rosto
Na tentativa de absorver algum conselho
De um olhar injetado de desgosto
Um sorriso acabrunhado se disfarça
Entre as lágrimas que salgam o paladar
Mas o espelho desmascara toda a farsa
Porque sabe da razão de um chorar
Embaça-se o vidro no ofegar
De um respiro que lanceta como a dor
Sem ter saída e nem pra onde se esgueirar
O espanto paralisa sem pudor
O medo que atinge é palpável
As mãos bailam pela face irrequietas
Em um trêmulo espasmo incontrolável
Pelas culpas que o ferem como setas
Os cabelos são revoltos pelas mãos
O semblante é pesaroso e obtuso
Já não sabe se quem olha é amigo ou irmão
Ou simplesmente ele encara algum intruso
O olhar vai muito além de uma imagem
Refletida no pedaço de um vidro esfumaçado
Em busca de respostas no alcance da coragem
Pra encarar toda a história já vivida de um passado
Mas o espelho é tão cruel e não dá trégua
Mostra a verdade como uma espada nua
Esquadrinhando as medidas como régua
Deixando marcas mesmo na carne tão crua
Se tudo resolvesse com o vidro em estilhaço
Jogaria o espelho das alturas das montanhas
Faria dos cristais um verdadeiro estardalhaço
E em pó se tornaria o passado e suas manhas...