Bando de pássaros
Mudança dói
Mas o desprendimento
Constrói.
Tony Bahia
Bando de pássaros
Deixo minha história para trás
Sem olhar para trás, olhando...
A minh'alma se desfaz
E sinto o peito sangrando.
Cada taco desse apartamento
Pertence aos passos que por aqui passaram.
Cada vestígio de buracos nas paredes aos quadros retirados.
Cada olhar que o meu olhar vigia e desvia, os amores que tive
E os olhares dos amigos, leves e longos abraços.
Fácil desvencilhar-me de objetos e coisas materiais...
Impossível de sentimentos imortais.
Energias entranhadas nas paredes
E nas paredes e artérias do meu ser.
Na rede que em meu quarto habitou um dia...
Os discos de Milton. Piaf, Sarah Vaughan, Nana, Bethânia,
Os livros do Pessoa, Lobsang Rampa, do Mário de Sá Carneiro,
Todos em caixas, junto a imagens de Santos Padroeiros.
Não estou triste à toa, não é hipocrisia...
São quarenta anos, vividos nesse mesmo apartamento
Com cheiro de mar, saudade, dor e maresia.
Impossível enterrar o passado, estando presente
Em todos os poros e saindo pela memória da pele
Como se sente o cheiro de pão, saindo do forno.
As fragrâncias, são aromas em movimento
E dói a alma porque tudo se aflora.
Estático, cérebro por dentro e por fora.
As lembranças saem da memória covardemente
E assumo minha covardia, perante às lembranças do passado...
Sou dado a angústia e melancolia,
Quando fadado estou a sentir o peito transbordando de saudade!
E quero sentir tudo, no âmago mais complexo da alma
E depois, como tudo, tudo se acalmará
Tudo se acalma feito ondas no mar...
Guardo meus rabiscos com cheiro de mofo e traças.
As molduras com cupim.
E fecho caixa por caixa.
Meus pés são labirintos pulando sobre o abismo.
Apagarei as luzes!
E tudo que a mim pertence trancado em um cofre
Que em mim não cabe.
Quando fechar a porta, deixarei a saudade misturada aos ácaros
E entregarei as chaves a um bando de pássaros.
Tony Bahia.
Me deixa sentir com você essa dor
Me deixa lavar as paredes esburacadas da tua alma
E na tarde seguinte,
contemplando juntos o pôr do sol
Quem sabe aos poucos
Ir recuperando tua calma.
Nada está perdido,
nada vai-se de uma vez
Ficam ao menos as lembranças
Os retalhos coloridos da história
Que a vida, generosamente te fez.
Isis Dumont
..................Inspirada interação ................
Obrigado Isis, tony.
Aprendi o desapego,
faço as malas, junto as peças,
levo na memória,
a história de onde saí.
Sou como os ciganos,
não finco raízes.
Sem um teto meu,
deixo aos pássaros,
meu canto,
e preciso voar com os pés de cimento no chão.
Quando sentires pingos miúdos,
tocando tua face,
são as lágrimas caídas do céu,
de tantos prantos que guardei.
Cassia Da Rovare
.................Inspirada interação.................
Obrigado Cássia
A pungência desses versos
ecoa em mim como pássaros
com feridas nas asas.
Pássaros como casa
pássaro-memória.
Pássaro alheio a si mesmo
como um ser tardio.
Pássaro sedento de um rumo para longe...
Com tudo muito dentro
demasiado dentro...
Pássaro-casa
vida que somos e fomos
rios de nós mesmos
rio de um outro
casa que segue conosco
coo tudo que é sempre nosso
como tudo que venha a ser-nos
terra nova
novos céus.
Zuleika dos Reis
.............Inspirada interação da poeta Zuleika dos Reis............
A maior gratificação para um poeta é ver sua obra interligar-se!...
Tony Bahia