uma parte da noite
ar frio, alta madrugada
garganta ressecada
o lixo voa na calçada
casas, pátios, prédios, apartamentos
uns acordados, outros sonolentos
a luz que sai por uma janela
vozes e música, também saem por ela
caminho pela calçada, ouvindo tudo
tudo o que o silêncio está dizendo
fala de alegria e de lamento
sensação, de uma nostálgica solidão
que se espalha com o vento
é quase um absurdo,
esse meu inqüetamento
esquinas, ruas, avenidas, vielas,
passo horas, passando por elas,
sigo noite adentro, em passo lento
não procuro nada, nem ninguém
quero apenas esse exato momento
não procurar, é a minha satisfação
vagar, sem destino, sem pretensão
fazer parte dessa noite
sem ninguém me enxergar
fazer parte dela, como se fosse o ar