MERCADO / LIQUIDAÇÃO
Desçam a proteção das vitrines.
Não importa saber se nos olhos de quem passa
encontra-se qualquer sinal de vontade.
Faremos do amanhã feriado.
A juventude, sedenta por novidade, nos dá as costas
do outro lado da rua. Arrogantes, ignoram que
vestem o que foi comprado no mercado,
comem o que foi comprado no mercado.
Os sonhos dessa juventude foram barganhados no mercado.
Seus pais dormem tranquilos em suas casas,
abastados de toda sorte e aventuras:
sonham luz elétrica, água quente e encanada fornecida pelo mercado.
Não apresse o passo, essa gente vive no fosso. Caminha sem dizer bom dia.
É largo o caminho da delícia, sabe o mais experiente viajante.
Desçam a proteção das vitrines, mesmo única
a vida se repete em ciclos dentro de ciclos.
Hoje não venderemos. Guardem o que foi revirado
nas prateleiras e vamos para a feira, na praça.
O mercado decreta: amanhã é feriado.
Antônio B.