MERCADO / LIQUIDAÇÃO

Desçam a proteção das vitrines.

Não importa saber se nos olhos de quem passa

encontra-se qualquer sinal de vontade.

Faremos do amanhã feriado.

A juventude, sedenta por novidade, nos dá as costas

do outro lado da rua. Arrogantes, ignoram que

vestem o que foi comprado no mercado,

comem o que foi comprado no mercado.

Os sonhos dessa juventude foram barganhados no mercado.

Seus pais dormem tranquilos em suas casas,

abastados de toda sorte e aventuras:

sonham luz elétrica, água quente e encanada fornecida pelo mercado.

Não apresse o passo, essa gente vive no fosso. Caminha sem dizer bom dia.

É largo o caminho da delícia, sabe o mais experiente viajante.

Desçam a proteção das vitrines, mesmo única

a vida se repete em ciclos dentro de ciclos.

Hoje não venderemos. Guardem o que foi revirado

nas prateleiras e vamos para a feira, na praça.

O mercado decreta: amanhã é feriado.

Antônio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 24/04/2012
Reeditado em 07/03/2015
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