Memórias da Louisiana





Banjo que não fala, apanha. 
Apanha como Billie Joe, o bobo,
por tanto tempo, num quarto escuro,
trancafiado.
Banjo calado, só esperando,
terminar a cusparada de Lwelyn,
o vagabundo apaixonado.
Uma voz lá longe, de Gracie Lou,
dizendo: "toca uma pra mim"....
E os dedos escorregam nas cordas...
Era pra ser um blues, mas só deu
um spiritual sem muita graça.
A graça do blues se improvisa,
mas nada na vida foi improvisado.
O reverendo James disse que poderia
os corpos libertar dos pecados.
Por isso suas mãos se insinuavam
pelas virilhas e pelas bocas...
o asco.
O sorriso desdentado mente.
Nunca morreu, de fato, o passado.
Mesmo quando o corpo morto,
do reverendo amaldiçoado,
foi servido aos lobos esfomeados.
Lwelyn toca com força e parece
que agora vai nascer um blues....
Ninguém passa por aqui, impune.
Mesmo sem honra e sem caráter,
tudo é passível de seu próprio fardo.
Billie joe não mais habita o escuro...
e já vê com maestria embaixo das saias...
Fala com desenvoltura, palavras sujas,
e ao lado de Lwelyn se acalma.
São dois degenerados.
Gracie Lou sumiu por um tempo...
Voltou desonrada e cheirando a fumo...
E o sol sempre se porá, moribundo,
por detrás dessas casas.

Envelhecer para quê?
O tempo pode ser sempre manipulado.
Se ao lado de Lwelyn, conformado,
está Billie Joe, mesmo que aparvalhado,
tudo é melancólico e lindo,
Tudo é insulto e wisky barato.
Mais uma cusparada, já que é noite,
e nasce mais um blues....
Billie Joe dorme, e Lwelyn o guarda.
Nunca mais será ferido,
pois Lwelyn tem o banjo,
tem impropérios e um colt guardado.




EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 22/04/2012
Reeditado em 22/04/2012
Código do texto: T3627266
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.