a velha de trapo
E ela desce
a rua de minha casa,
tem os mesmo traços, embaçado
pelas misérias do tempo,
mas ainda é ela: Magra
e carrega o mesmo fardo
de chumbo azul. não
ri, não aprendeu, não canta
nao aprendeu.
e seus passos pequenos
mede o sua coragem no mundo.
a bacia de prato continua.
e a cabeça só olha pro chão,
so ver terra e solidão.
e a paixão se foi por falta de comida.
os sinos da igreja bate
na rua do fogo, onde mulheres
tristes vendem seu corpo
a preço de banana.
E a mesma velha
que vi toda minha infancia
se remoendo
de mãos levantadas,
Ainda sem desculpas,
Mendiga o amor.
e sua cumbuca vazia
só cabe o medo de se saber só.
e ninguém, ninguém sabe,
dessa vida invisível:
Longe das flores, do ar fresco
e dos abraços.
e reza
muito
pela graça de Deus, São Jorge
São Sebastião, qualquer um
que esteja de plantão...
e pede, e pede, e pensa que recebe.
Lembro do menino que andava
a rua da areia vendendo banana real.
sem gritar, sem ofecer, só andar
dentro de uma mágica púrpura.
esperando o fim do dia.
e subir até o campo de futebol
e comprar um pão, um gelinho
e viver no mundo interno
por alguns minutos.
e tudo apagar, e tudo morrer
e tudo cessar.
e a noite dormir,
e as folhas secas e podres
alimenta a eternidade da vida.
e sobre elas, a velha de trapos
passeia no mundo...
E vejo quando homem
apenas coisa mortas
Rios secos e ofensas,
a esperança sem graça
pede desculpas também
hora de partir, de descansar.
plantar flores em outro lugar.
cansou-se.
meus amores todos ficaram
pra trás,
em retratos na parede,
ou na gaveta ou, sem maioria
na memória.
E janete envelhece,
ficou feia, e seu hálito
antes, agreste, é frio e amargo
e contua sem saber meu nome.